segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Urbano III

eu,
poeta urbano,
escrevo com concreto,
plástico, asfalto,
com gasolina, álcool,
gás, diesel
e com monóxido de carbono.

penso na técnica, ouço o ritmo:
britadeiras,
motores,
buzinas engarrafadas,
rimas pobres nos pregões das feiras,
bate-estacas,
boates de lata transitam noturnas,
carroceiros lutam pelo lixo,
cascos e chicotes catraqueando asfalto.

procuro cores,
produzo imagens:
preto-asfalto,
preto-fuligem,
cinza-ar,
cinza-edifício,
cinza-calçada,
marrom-escapamento,
marrom-sarjeta,
boca de lobo entupida.
vermelho-boca-de-puta,
(preocupante
quando pinta faces pueris)
vermelho-sangue-seringa,
vermelho-sangue-assalto,
vermelho-sinal-fechado.

fazer poesia não é fácil!
porque é preciso olhar
com o olhar que desnuda,
que vê verdade e vergonha,
pedintes profissionais
postados na porta dos supermercados,
mães de filhos alugados;
o olhar preciso
que vê
a cola no colo da criança,
que vê a infância
atropelada pela vida.
é preciso olhar
com olhar que vê
a cidade acontecer
e a desvenda em palavras.
palavras que viram pedras,
que ferem ,
que acusam,
mas que também podem cantar
como pássaro
que insiste no vôo
mesmo em meio
à névoa negra
dos escapamentos.

Porto Alegre, 2/08/2008. _______________________________________________________
Este poema começou a ser escrito em 28/07/2008como um comentário ao texto Com o pé no estribo ou A educação pela pedra de José Carlos Brandão no Overmundo: http://www.overmundo.com.br/banco/com-o-pe-no-estribo-ou-a-educacao-pela-pedra e recebeu alguns importantes palpites da Bea CD

2 comentários:

Sidnei Schneider disse...

gostei muito, abração

Renato de Mattos Motta disse...

Que bom que gostaste!

Elogios valem mais quanto mais a gente respeita quem os fez! Os teus valem muito!