Patripoema
por um poema da pátria
por um poema
auriverdeazulanil
por um poema
mundaméricadosulbrasil
um poema de amarAmérica
um poemAmericano de pó
e de merda
poemerdAmericano de um
povo
que ainda hoje se vende
por bugigangas brilhantes
por bugigangas brilhantes
um poemundo
poimundo
do pó do mundo
poema neocolonizado
do brazil de haloweens
um brazil que comemora
um brazil que comemora
festas que não são suas
where'stheformernation?
deformada nação deste
poema
caubóis caipiras piram
no funk das favelas
no reggae
que regateia nossas praias
no reggae
que regateia nossas praias
poema bem pé no chão
pé no asfalto
pé no saco
pé no asfalto
pé no saco
não poema pé
de chinelo
que pede penico pro tio sam
e diz que é global
que é mundial
mas não é!
o mundo global
é no meu quintal!
sangrentas naus
escravistas
singram espaços
internacionais
“Galopam, voam, mas não deixam traço.”
“Galopam, voam, mas não deixam traço.”
chicanegrosdekasseguis
seguem banzando hoje
somos os candangos
do século vinte e um
candongueiros fuleiros
canibais
na falta de palmares
palmeiras vira nação
timões, mengos, flus, grenais
timões, mengos, flus, grenais
e cada vez mais
times te mentem
civilizar não é
carnavalizar!
carnal vala de vãs
meninas
prostituídas
no além mar
e no aquém amar
no aqui agora
no dia a dia
no cotidiano adiar do nosso dia
alada vitória da hélade
convertida em chulé
multinacional
intermúndico
fungo interdigital
criado no norte
fabricado em seul
consumido em todas as
direções
exportado
pago
muito bem pago
pago além do preço
meu
poema é outro
tupiniquim como trypanosoma
cruzi
como a trepação da globeleza
rebolando
nudez
nos horários infantis
trepanação
que lobotomiza brazis
desculturação
da ex-nação
auriverdes
travestis fazendo ponto no coliseu
na torre eiffel no reichstag no central park
na torre eiffel no reichstag no central park
religiões
e relógios de verão
zen
budismos sem bunda
desbundes
passageiros
módicas
modas que mudam nada
belas
musas sazonais
desinspiradas
ocas
ecos de desespero
ecos de desespero
vendendo
cerveja com a bunda
quero
um
poema drummundo
que
me desfralde bandeira
me
redescubra cabral
americano brasileiro
perdido em minha quintana
um poema coletivo
de papo com affonso e marina
em barco pirata do guaíba
cruzeiro
no fundo de casa
com
a lua umbigada no lago
onde
sidnei submerge seduzido por sereias
o
imediato do navio
é
o primo portugal
poeta
antípoda
e
no tombadilho
thiago
trava um tête-à-tête
com
barros do carmo e barreto
enquanto
o fantasma de qorpo santo
folheia
sua ensiqlopédia
wernek
e patrícia cruzam palavras
com
cacau e marodin
júlio
alves de cricris
com
a macedo e a vieira
michelle de anfitriã
comandando a litania
do
sarau improvisado
menegotto
na viola
accurso
na batucada
laís
enfeita as ruas
cidade vira poema
cidade vira poema
nossa
nau da poesia
voa
por porto alegre
aporta
no meio do brique
pra
por poesia na roda
numa
abordagem festiva
que
subverte a cidade
com
o bardo ricardo
cujo menos vendido
cujo menos vendido
é
livro esgotado
meu
poema insiste
em
falar como brasileiro
em
ter cheiro de feijoada
de churrasco assado no chão
de churrasco assado no chão
tutu
acarajé maracujá
ter
gosto de pitanga
goiaba
comida no pé
jabuticaba
abacate
abacaxi
caju café
meu
poema tem que
jogar com bola de meia
jogar com bola de meia
rodar
pião empinar pipa
papel
colorindo o céu
voar
lomba abaixo
em carrinho de rolimã
em carrinho de rolimã
andar
de bicicleta
bater
figurinha
jogar
taco pular sapata
bater
bolita de nhaque
tem
que ser brasileiro
como
carnaval de rua
de
antes dos abadás e das escolas
cachaça
caldo de cana chimarrão
caipirinha
cajuzinho xixi de anjo
cerveja
gelada em tarde quente
não
quero poema da pátria varonil
quero
um poema
do
brasil pueril infantil
brasil
mulher brasil negrão
japaindiopolaco
tudo junto misturado
um
poema-brasil
de
uma maioria de minorias
salada
de frutas
culturalracialetnicaoescambau
poema
pau-brasil
que fale português tupi-guarani
que fale português tupi-guarani
italiano
alemão banto
espanhol
e nagô
poema
verdade capaz
de
ver além das novelas
além
das rebolativas
porta-bandeiras
mulatenzoneiras
do
carnaval
planetariamente
divulgado
sexo oficial
sexo oficial
em
três vias carimbado
por
três dias aprovado
mais
a muamba
mais
a quarta de cinzas
mais
o enterro dos ossos
mais
quanta micareta
porque
o brasil da televisão
não
trabalha
não
batalha
só
dança samba
reggaeafroaxéreboleichon
só
quer saber
quem matou o bandido da vez
no capítulo
visto revisto e repetido
que vira notícia
a novela da tevê se vê
no noticiário da mesma tevê
quem matou o bandido da vez
no capítulo
visto revisto e repetido
que vira notícia
a novela da tevê se vê
no noticiário da mesma tevê
que
tudo vê
menos
tu
porque
a tevê não te vê
só
vê o que dá lucro
só
vê o que interessa
pro
dono da tevê
este
é o poema
que
eu fiz pra você
que
só vê
o
que lhe dizem
que é pra ver
que é pra ver
este
é o poema
que
cheira cola
que
fuma crack
que
dorme sob marquises
este
é o poema
dos
ratos e das baratas
chiclé
na sola do sapato
poema
do lixo revirado
do
pedestre atropelado
poema
do que você vê
mas
não tem nada a ver com você
este
é um poema não
este
é um poema foi
este
é um poema
nunca mais
este
é o poema que eu fiz
pra
pátria que me pariu!
Porto Alegre,
2013.
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