(foto: Scott Rhea, retirada da internet)
povoado
afogado
tolas calhas
que ocultam moluscos
(quando o ar é água
telhados quebrados
não tem goteiras)
vila subaquática
onde emoções passadas
e sonhos molhados
permanecem entre os
peixes
que nadam por ruas
lugarejo onde te quis
agora imerso em lago
silêncio de poço
torneiras inúteis
chuveiros inúteis
talvez algum dia
de conto de fada
alguma sereia
resolva habitar
a cidade das águas
talvez a sereia
encontre um dia
teu quarto de nácar
cortinas de rosa
dossel de algas
quem sabe a gaveta
do criado-mudo
ainda tenha o poema
em caneta verde
na folha de almaço
quem sabe o poema
lavado na água
levado pra longe
agora dissolvido
no rumo do olvido
à vista da sereia
as palavras desfeitas
o papel esfacela
e a menina das águas
não sabe ler
Renato de Mattos Motta
Porto Alegre, 04 de fevereiro de 2012.
Porto Alegre, 04 de fevereiro de 2012.
2 comentários:
Olha só o poema é de beleza ímpar, que me encantou!
que bom que gostaste, Celly!
Obrigado, querida!
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