domingo, 20 de julho de 2008

Um Convidado Ilustre: Luís Vaz de Camões


Perdigão Perdeu a Pena



Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.



Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.



Coitado! que em um tempo choro e rio


Coitado! que em um tempo choro e rio
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
Duma cousa confio e desconfio.


Voo sem asas; estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço.
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio.


Queria, se ser pudesse, o impossível;
Queria poder mudar-me e estar quedo;
Usar de liberdade e estar cativo;


Queria que visto fosse e invisível;
Queira desenredar-me e mais me enredo:
Tais os extremos em que triste vivo!


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quinta-feira, 17 de julho de 2008

XEQUE




Quando a vida
ia me dar um xeque-mate,
a gata pulou sobre o tabuleiro!
Fez a maior bagunça!
Saiu pela casa
com o rei adversário
transformado em joguete
entre suas patas.
Foi aí que me dei conta
que a vida
é um cheque em branco.

Porto Alegre, julho de 2008