quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Povoado afogado

(foto: Scott Rhea, retirada da internet)




povoado afogado
tolas calhas
que  ocultam moluscos
(quando o ar é água
telhados quebrados
não tem goteiras)

vila subaquática
onde emoções passadas
e sonhos molhados
permanecem entre os peixes
que nadam por ruas

lugarejo onde te quis
agora imerso em lago
silêncio de poço
torneiras inúteis
chuveiros inúteis

talvez algum dia
de conto de fada
alguma sereia
resolva habitar
a cidade das águas


talvez a sereia
 encontre um dia
teu quarto de nácar
cortinas de rosa
dossel de algas

quem sabe a gaveta
do criado-mudo
ainda tenha o poema
em caneta verde
na folha de almaço

quem sabe o poema
lavado na água
levado pra longe
agora dissolvido
no rumo do olvido

à vista da sereia
as palavras desfeitas
o papel esfacela
e a menina das águas
não sabe ler

Renato de Mattos Motta
Porto Alegre, 04 de fevereiro de 2012.

2 comentários:

a fantasista disse...

Olha só o poema é de beleza ímpar, que me encantou!

Renato de Mattos Motta disse...

que bom que gostaste, Celly!
Obrigado, querida!